terça-feira, 28 de julho de 2015

131 Anos da Festa de Nossa Senhora da Guia



131 Anos da Festa da Nossa Senhora da Guia

Cento e trinta e um anos é inimaginável para quem tem a graça de estar vivo. Tudo parece que sempre foi assim no monte Gemuro que serve de barreira maior ao vento, impedindo a vila de Loriga de ver a extensão perdível do vale. No seu pé, encontram-se as ribeiras que ladeiam Loriga, vila erguida no cimo de socalcos trabalhados de terra serpenteados entre o correr das levadas e que, de ali para a frente, passam a ser uma só única água, pura e fria, que torna forte a lã e firme o pão da terra. 
No topo, uma capela pequena teima, segura ao Sol e firme ao vento. Ao lado, a companhia de um coreto prateado e assente sobre granito. A capela por dentro, ornamentada de mármore branco, tem no centro a bela imagem da Nossa Senhora da Guia, que resplandece sobre os raios dourados de uma estrela que se confundem com o desenho de uma montanha. 
De nascente, está o maciço central da Serra da Estrela, a Garganta de Loriga e a vila de casas emaranhadas, ali e acolá, por ruas e quelhas, crescida entre a neblina do Inverno e a beleza do céu de anil ou ciano primaveril e de Verão; cores que tanto tingiram os lanifícios da terra, por mais de século e meio e outro tanto. Na capela, a imagem bela enche as mãos com uma estrela e o menino Jesus, acolhendo e comovendo todos os que a visitam.
Cento e trinta e um anos de devoção, emoção, comoção, amor, lágrimas e sorrisos de muitas almas. Promessas cumpridas. Sofrimentos silenciosos. Refúgio e abrigo de tanta saudade alimentada por despedidas, chegadas e regressos desejados… E por tantos ‘adeus’ que não voltaram. Faltam palavras para contar tudo sobre a Padroeira dos Emigrantes, porque as maiores riquezas do mundo não se vêem, sentem-se.

Dos comerciantes de lã que trouxeram a imagem, passando pelos que ergueram as duas capelas e o coreto, à criança que canta o que a Banda toca enquanto as mãos se revezam a segurar o andor; pelas expressões dos que se juntam a celebrar a missa, aos que levam a Senhora para a vila, dos foguetes da alegria aos balões da Maria e do Manel, entre piqueniques e dias de ‘chisneira’ ou nas janelas de crentes impedidos pela doença de assistir a tudo… há a Fé, a gente, o lugar belo, a imagem profunda, encorajadora, a saudade, a história de tantas famílias sentida e não contada, de uma terra que vê o Sol pôr-se todos os dias para lá da Senhora da Guia. Um enorme tudo. 
Depois, passa o dia da festa e da romaria. Continuarão a ir rezar o terço e o rosário à Senhora da Guia, bem de noite. O desejo de saúde de lá voltar sempre, esteja muito longe ou perto. Marcarão encontros para antes, durante e depois da romaria, mas vivem sempre com a Padroeira Amorosa no pensamento. Por isso, seja na festa que se celebra em Loriga e em Belém do Pará no primeiro Domingo de Agosto, a Nossa Senhora da Guia vive todos os dias na alma de muitos, sejam os que acordam e se deitam virados para o santuário ou de todos os que um dia partiram na esperança de voltar à sua terra e à Nossa Senhora da Guia. Todos a sentem e a sentem como sua. É assim há cento e trinta e um anos e continuará a ser assim, insuficientemente indescritível e única. Pessoalmente e entre tanto do que devo, devo à Padroeira Amorosa o sorriso e a saudade para sempre de uma das suas muitas afilhadas de baptismo, a minha mãe. Obrigado.

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