sexta-feira, 4 de maio de 2012

O Estado Em Que Estamos...

(fotografia minha e texto enviado por e-mail pelo primo José Lages Caçapo)
Se tivéssemos mar ...BRUTAL

       Pergunto-me o que haverá de origem da costa Portuguesa nos mercados
de Angola...

     Da crónica de João Quadros no Negócio On-Line:

     "Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE)
     demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo
     Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores
     portugueses."


     Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta
     semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos
     supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.
     Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.

     Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia,
     sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji,
     abrótea do Haiti? Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver
     marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma
     abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji.
     Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é
     exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho
     curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se
     tem irmãs, etc.

     Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de
     pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável
     ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a
     chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz
     na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é
     desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais
     quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o
     ano. Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter
     alguém interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em
     Telheiras? fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte
     no Nilo. A minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está
     num supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das
     compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.

     Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo
     marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo
     marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria
     quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e
     rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há
     nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.

     Eu, às vezes penso: o que não poupávamos se Portugal tivesse mar.



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